quarta-feira, 12 de setembro de 2018

ÁGUAS
O Circuito da águas do Brasil

Afonso Fonseca, psicólogo.

Este não é um ensaio especializado. É um ensaio escrito por um leigo. Com impressões de um leigo.

O circuito das águas do Brasil parece ter duas fontes monumentais e telúricas.

O Oceano Atlântico, auxiliado pelos ventos alísios; e os paredões dos Andes; mediado pela floresta amazônica.

E o degelo sagrado das neves dos Andes, igualmente mediado pela floresta amazônica.

A floresta suga água do Atlântico, sob a forma de vapor. Vapor que chega até os Andes, de Leste a Oeste. choca-se com os paredões. E cai sob a forma de chuva.

E, depois de alimentar a floresta, novamente evapora, e vai, com as águas da Amazônia evaporadas, constituir os Rios Voadores. Volumes imensos de água que, sob a forma de vapor, fluem de Norte, para o Sul do Brasil. E vão contribuir com o regime de chuvas do Centro do Brasil, do Sul, e do Centro-Sul.

A água flui, descendo de Norte para Sul, pelos fantásticos rios voadores da Amazônia.

A água, também flui, subterrânea de Norte para Sul.

Subterrânea, percorrendo, sob a terra, paralela aos rios voadores.

Pontos chave deste trajeto subterrâneo das águas: a Floresta Amazônica, naturalmente; as águas subterrâneas da Chapada das Mesas, em Carolina, no Maranhão; o Jalapão, no tocantins. E, o grande tributário, o Aquífero Guaraní.

Vale observar, que as águas percorrem um caminho milenar, do Mar ancestral do Brasil Central. Que ia do Amazonas ao Rio da Prata. Ocupando o interior do Brasil Central. Com a elevação dos Andes, as águas desse mar monumentalmente fluíram para o Atlântico.

Depois de chegar ao Centro do Brasil,  com tanto oceano Atlântico litorâneo, ela se reparte e flui para todo lado, pelas principais bacias.

É como se houvesse um declive no sentido Setentrional-Meridional do Brasil. E Oeste-Leste. Oeste-noroeste.

Como se as águas fossem fluindo, por gravidade, até o Jalapão, no Tocantins.

Aí, elas esborram.

E constituem as principais bacias de superfície do Brasil.

A do Tocantins, que flui para o Norte, a do São Francisco, que vai pro Nordeste; a do Rio da Prata, que vai para o Sul; a do Parnaíba, que vai pro Norte, também.

Essas bacias nascem no Jalapão.

Generosas, as águas, ainda sobram para continuar o seu caminho descendente.

E vão compor as águas do Aquífero Guarani, o maior aquífero de água doce do mundo. Que se estende por terras do Sul, Centro Sul, e Centro-Oeste do Brasil. Atingindo terras subterrâneas argentinas, paraguayas e uruguayas.

Seria interessante estudos sobre as possíveis correlações entre as águas da Amazônia, da Chapada das Mesas, do Jalapão, e do Aquífero Guarani.

Daí, elas vão para o Atlântico. E, quem sabe um dia, voltarão a sua aventura amazônica.

Não dá para acreditar, como essas águas são volumosas e cristalinas. Fluindo, sempre, no seu caminho, imenso.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

LUZIA. ADEUS, CONTERRÂNEA.
Réquiem por Luzia, 16 ou 60000 anos depois.
Afonso Fonseca, psicólogo.


Luzia foi uma mineira da região de Lagoa Santa.
Ouviu a música do vento, o murmúrio dos rios. Amamentou. Carregou crianças escachadas na cintura. Lutou, lutou.

Teria tido tempo de pensar no futuro?

Não imaginaria.

Nem imaginaria que pereceria, de modo tão trágico, pela irresponsabilidade de vermes, a quem, no ôco humano, só restaria a brutalidade, a burrice, o ressentimento, tantos anos depois, e num lugar estranho.

Talvez nunca tenha saído de Minas, e de seu quadrado, delimitado pelas montanhas.

Já seus ancestrais... Seus ancestrais...

Literalmente correram o mundo.

Na China, elaboraram a decisão de dividirem-se. Uma parte foi para o Sul. E compuseram a população dos Aborígenes australianos, e da Oceania.

Outra parte resolveu encarar o frio, e ver onde ia dar.

Chegaram ao Estreito de Behring. Então uma ponte entre o frio da Sibéria e o frio do Alaska.

Atravessaram-na. E, logo, estariam nas planícies da América.

Foi aí que Luzia, antes mesmo de nascer, tornou-se americana.

Colonizaram, sem pressa a América. Mas, seguiram em frente...

Transitaram pela América Central... E adentraram o Brasil, pela Amazônia.

Aí, viveram um dos mais importantes e impressionantes capítulos da história da Humanidade. Aí uma comunidade humana melhorou o solo da floresta.

Onde a comunidade habitava, aí o solo se constituía, por seu cultivo, em 'Terra Preta de Índio'. Uma terra de grande valor agrícola, ainda hoje presente, no interior da Floresta Amazônica...

Corria o ano de 12000 aec. Ou de 60000 aec, segundo alguns arqueólogos Brasileiros. Ou que trabalham no Brasil.

Vale lembrar o feito imenso de Luzia, e de seus ancestrais: a Pré-História oficial, colonialista, fixava em 3000 anos a chegada do homem na América. As fogueiras pré-históricas da Serra da Capivara dizem que já fazia 8000 ou, quem sabe 53000 anos (você pode imaginar?) que os ancestrais de Luzia comiam Mocós, na Serra da Capivara, e no Alto Sertão.

Luzia e seus ancestrais também carregam este título, de 'primeiros Sertanejos do Brasil'...

Não eram índios.

Pareciam mais com os aborígenes australianos. Pele negra, nariz volumoso e achatado... Eram os Paleo Índios. Os Índios viriam depois, e os expulsariam...

O fóssil de Luzia ajudou a baixar a data da chegada do homem no Brasil, colonialisticamente imposta, de 3000; Para 12000. E, talvez, para 60000 anos.

As populações dos ancestrais de Luzia floresceram nas cavernas do extremo deSERTÃO e no Brasil central. Até que chegaram grupos a Minas Gerais, e à região de Lagoa Santa.

Aí viveram, e morreram.

Um ser humano especial, o arqueólogo Dinamarquês Peter Lund (1801 - 1880), pai da Arqueologia brasileira, descobriu, e começou a estudar as cavernas da região. Para isso, mudou-se para Lagoa Santa.

Luzia estava lá. E foi descoberta, anos depois, por arqueólogos brasileiros.

Que logo entenderam a sua particularidade.

De sua Minas natal, Luzia sairia para o mundo.

Com técnicas modernas, os arqueólogos reconstituíram seu rosto, ajudou a estabelecer a teoria e a história dos Paleo-Índios.

Luzia não era mais apenas um crânio.

Agora, ela tinha pele e rosto... E era parte da história da Humanidade;

Destruídos no incêndio do Museu Nacional do  Brasil.

Em 02 de Setembro de 2018. Pela ação de energúmenos, que ninguém sabe quem são, e que serão esquecidos tão logo deixem suas sinecuras.

domingo, 2 de setembro de 2018

O AMBIENTE SOMOS NÓS*
Afonso Fonseca, psicólogo.






Se falamos de uma 'biologia da compreensão', é porque existe uma 'biologia da explicação'.

Esta, a Biologia da explicação, é, ontológica, e epistemologicamente, a Biologia dominante.

A precedência  dela é danosa. E, dela estamos intoxicados.

'Da compreensão', ou 'da explicação', implica dois modos de sermos. O ontológico, e o Ôntico. Com suas características respectivas.

Limitarmo-nos ao modo de sermos ôntico, da explicação, priva-nos da apreensão do ambiente em suas características ontológicas. Pré-reflexivas, e pré-conceituais.

Onticamente, explicativamente, neste caso, o ambiente é um ob-jeto, uma coisa. É reflexivo. Teorético. Conceitual. Sua forma mais pobre, e parcial, de ser.

Ontologicamente, compreensivamente, o ambiente NÃO É uma coisa.

É movimento. Não é ob-jeto, mas jeto.

Não é teorético.

É pré-reflexivo. E pré-conceitual.

Dialógica e ontologicamente, o ambiente, em qualquer de seus aspectos, é um TU.

Ontológico, o ambiente só se dá numa dialógica. Diapoiética.

Isto tem importantes implicações

No modo ôntico de sermos, estamos cindidos na dicotomia sujeito-objeto. E, reflexivamente, o ambiente, alienígena, é um objeto.

No modo ôntico, a explicação é reificada, reflexiva, e conceitual.

A implicação, e a compreensão, constituem o aspecto cognitivo do modo ontológico de sermos.

A implicação e a compreensão são pré-reflexivas, e pré-conceituais.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos da ação. Da moção, da emoção, e da regeneração. É o modo de sermos da sensibilidade emocionada. Modo de sermos da estética, e da poiética...

O modo ontológico de sermos é  dialógico. Da relação EU-TU.

O modo ôntico de sermos é o modo de sermos da coisidade, da instalação da coisa.

A apreciação de qualquer aspecto ambiental, inicialmente, depende do modo de sermos em que o fazemos.

Assim, a apreciação ôntica do ambiente, prevalecente na Biologia, e em nossa cultura, traz as sua premissas e valorações.

Ou seja: em princípio, de que o ambiente seria uma coisa, composta por um conjunto de coisas. O ambiente seria um objeto. Portanto reflexivo. A premissa de que o ambiente seria conceitual, teorético. E explicativo.

Ora, essas características são consequência das características do modo ôntico de sermos.

Porque, no modo ontológico, o ambiente não é coisa instalada, é ação. O ambiente não é composto por coisas, ou por partes: o ambiente é um todo, diferente da soma de suas partes. O ambiente não é jeto, mas transjeto, não é objetividade, nem subjetividade, mas transjetividade. O ambiente não é reflexivo, mas pré-reflexivo. Não é conceitual. Mas pré-conceitual. Não é explicativo, mas, implicativo. E compreensivo...  O ambiente é, eminentemente, dialógico.


O termo AMBI-ente remete a um ser AMBÍ-guo.  O AMBI-ente é um ente AMBÍguo.

E a ambiguidade do AMBI-ente está  em que hora ele é ontológico. Hora ele é ôntico.

Hora ele é ontológica da ação. Sentido.

Hora ele é coisa.

Hora ele pré-reflexivo, e pré-conceitual. Hora ele é reflexivo, e conceitual. O ambiente oscila entre o modo ontológico, e o modo ôntico de sermos. Como a existência.

Nisto reside sua ambiguidade.

Utilizando uma terminologia da dialógica de Martin Buber, ora nos relacionamos com o ambiente ônticamente, como um ISSO; ora como um TU. Ou seja, ora numa relacionamento EU-ISSO; ora numa relação EU-TU.

Ao modo do relacionamento EU-ISSO, o ambiente é objeto, objetivo. É reflexivo. E conceitual. É explicativo, e teorético. Reificado conceitualmente, o ambiente e seus seres ônticamente são coisas.

Ao modo ontológico da relação EU-TU, o ambiente não é, objeto; não é, nem pode ser, objetivo... O modo ontológico de sermos é todo ele jeto, ação... (Buber).

O ambiente é transjetivo.

É pré-reflexivo, implicativo. Sentido (logos) compreensivo, compreensão.

É pré-conceitual. Ação. No NÓS da dialógica EU-TU.

Ônticamente, EU-ISSO, é objeto, teorético. De reflexão.

Ontologicamente, EU-TU, o ambiente é passível de experimentação, e de interpretação fenomenológico existencial. De experimentação, e de hermenêutica fenomenológica.

O modo ontológico de sermos, é o modo de sermos, poiético, da atualização de possibilidades. Da ação. É o modo de sermos da emoção, da implicação, da compreensão. A vivência, no modo ontológico de sermos, não é causal, nem pragmática.

Seu caráter pré-reflexivo significa que o ambiente é, todo ele, jeto -- 'jato' da atualização de forças, as possibilidades. Neste modo de sermos, assim, o ambiente não se constitui como ob-jeto (afastamento do jeto). Não se constitui como condição da dicotomia sujeito-objeto. A teorética.

O conceitual significa o decaimento das forças das possibilidades -- cujo desdobramento é a ação. Com isso, encaminha-se para a conclusão o episódio do modo ontológico de sermos, com a super simplificação de seus produtos, a sua reificação, e caricaturização -- sua passagem de analógico para o conceitual. Com o seu empobrecimento, e desnaturação.

A conceituação marca um limite entre o pré-conceitual, e o conceitual.

O ontológico é pré-conceitual.

Conceitual, o ôntico.

A Ciência clássica elege o modo ôntico de sermos como critério de verdade.

Isto significa assumir, de partida, o viés do ôntico, em sua pobreza, provisoriedade, como base do critério de verdade. Ignorando as características do ontológico.

Ou seja. Que o ambiente seria explicativo. Seria reificado, conceitual. Que o ambiente seria objetivo, e reflexivo.

O que não é verdade.

Ao modo ontológico de sermos, o ambiente ontológico, é vivido. Constitui-se como implicação, e como compreensão. Constitui-se assim  como sentido.

Ação, o ambiente não é objetivo, nem subjetivo. Mas, jetivo, transjetivo. O ambiente é pré-reflexivo, e pré-conceitual. Á compreensão.

Como objeto, o ambiente, reflexivo,  é, simplesmente, dejeto. Assim como o sujeito.

E não o ambiente na ontológica da presença e atualidade de sua ação.

Na ontológica de sua presença e atualidade, o ambiente é susceptível, e só é acessível, pela exprimentação e pela hermenêutica, pela interpretação, fenomenológico existensial.

Na ontológica de sua dramática, o ambiente é diapoiético, e dialógico.

Isto quer dizer que, não existe ambiente sem a nossa experimentação, sem a nossa interpretação fenomenológico existensial, sem a nossa implicação, sem a nossa compreensão. Sem a nossa confirmação e participação, na dialógica.

Nessa condição, o ambiente -- que não é um objeto  --  é um TU. Ação de uma alteridade. Desconhecido, diferente, diferença. Que só é dado à experimentação, e interpretação fenomenológico existenciais, pelo engajamento em sua diapoiética, e dialógica.

Assim, na diapoiética, e dialógica, com o ambiente, como tu, podemos desvendar/criar um ambiente no modo de sermos ontológico. Modo de sermos do movimento, da emoção, da implicação, e da compreensão. Um ambiente na riqueza de sua multiplicidade, e nexos. Um ambiente criativo, e regenerativo.

O ambiente deixa de ser objeto, e passa a ser o TU de uma diapoiética dialógica, que é um nós.

A reificação do ambiente, e a sua coisificação, objetivação, e conceituação, reduzem o ambiente a uma caricatura, a seu aspecto mais pobre. Levando-o a uma alienação progressiva. Até que o ambiente, alienígena, constitui-se cada vez mais como ameaçador, e perigoso. Como inerte, incompreensível.

sábado, 1 de setembro de 2018

POR UMA BIOLOGIA
DA COMPREENSÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.


1. Biologia, Ontologia, Epistemologia, e Ambiente.
2. Ambiente somos nós
3. Objetivismo e ambienticídio;
4. Para aquém da Ecologia
5. Bioimplicação





1. BIOLOGIA, ONTOLOGIA,  EPISTEMOLOGIA, E AMBIENTE

De tal forma a ciência clássica assume a dimensão ôntica da existência, como critério de verdade, como seu critério de verdade, que não questiona a objetividade. Constituindo-a como um preconceito básico de suas premissas. Ainda que mero preconceito.

Assumir a objetividade como critério de verdade, é reduzir a Biologia a uma anatomia patalógica. Partir do dado de um ambiente morto. E que, só  morto ele seria científico. Que cientificidade é essa. Do niilismo, do ressentimento, da  necrofilia.

Talvez esteja chegando o tempo em que a Biologia, e, em particular, a Ciência Ambiental, questione sua epistemologia. Em particular, sua Epistemologia, enquanto cognição derivada de sua Ontologia.

Jeto a ação -- en quanto desdobramento de possibilidades --, a Fenomenologia, e a ontologia, mostram-nos que o modo ôntico de sermos -- que torna possível a objetividade -- é o modo mais pobre de sermos. Modo super simplificado, reificado, caricato. Reflexivo, e conceitual. Modo dos dejetos da ação. O sujeito e o objeto, a subjetividade, e a objetividade.

Na verdade o modo ôntico de sermos é o interregno entre dois episódios do modo ontológico, fenomenológico existensial, e dialógico -- modo este de sermos da da exitensia, da ação.

O modo ontológico de sermos é o modo sermos da implicação, e da compreensão. Da experimentação, e da interpretação fenomenológico existenciais.

O modo ôntico, o modo de sermos da explicação. Da reflexão, do comportamento, da interpretação teórica, da teorética.

O modo ontológico é o modo de sermos, do episódio da existência, da ação e do ator. Todo ele é o jeto do desdobramento de possibilidades, da ação. Nele não se constituem o objeto, e o sujeito -- e a atitude reflexiva do sujeito para com o objeto..

No modo ôntico de sermos constituem-se o objeto (afastamento do jeto), e o sujeito. O o objeto, e o sujeito são portanto artefatos do modo ôntico de sermos.

A reflexão, a teorética, a objetividade dependem da constituitção do objeto, e do sujeito. E de sua dicotomia.

A explicação, a teorética, são o aspecto cognitivo do modo ôntico de sermos.

A compreensão é o aspecto cognitivo do modo ontológico de sermos.

O modo ontológico de sermos é eminentemente diapoiético, e dialógico.

E sua vivência implica na experimentação, e na interpretação, na hermeneutica, fenomenológico existensial,

Como constantemente viva, processual, múltipla, e ativa, criativa, a vida só pode ser abordada fenomenológicamente, ontologicamente. Como o tu de uma dialógica, que se revela na interação. O ambiente, assim, é motivo de experimentação, e de hermenêutica fenomenológico existensial. Sendo a constituição do sentido celebração da afirmação e desdobramento da afirmação e desdobramento da poiética, diapoiética, dialógica. Pré-reflexiva, e pré-conceitual. Pré-teorética, e pré-comportamental.



2. AMBIENTE SOMOS NÓS

Se falamos de uma 'biologia da compreensão', é porque existe uma 'biologia da explicação'.

Esta, a Biologia da explicação, é, ontológica, e epistemologicamente, a Biologia dominante.

A precedência  dela é danosa. E, dela estamos intoxicados.

'Da compreensão', ou 'da explicação', implica dois modos de sermos. O ontológico, e o Ôntico, respectivamente. Com suas características respectivas.

Limitarmo-nos ao modo de sermos ôntico, da explicação, priva-nos da apreensão do ambiente em suas características ontológicas. Pré-reflexivas, e pré-conceituais.

Onticamente, explicativamente, neste caso, o ambiente é um ob-jeto, uma coisa. É reflexivo. Teorético. Conceitual. Sua forma mais pobre, e parcial, de ser.

Ontologicamente, compreensivamente, o ambiente NÃO É uma coisa.

É movimento. Não é ob-jeto, mas jeto.

Não é teorético.

É pré-reflexivo. E pré-conceitual.

Dialógica e ontologicamente, o ambiente, em qualquer de seus aspectos, é um TU.

Ontológico, o ambiente só se dá pela confirmação e participação em sua dialógica. Diapoiética.

Isto tem importantes implicações

No modo ôntico de sermos, estamos cindidos na dicotomia sujeito-objeto. E, reflexivamente, o ambiente, alienígena, é um objeto.

No modo ôntico, a explicação é reificada, reflexiva, e conceitual.

A implicação, e a compreensão, constituem o aspecto cognitivo do modo ontológico de sermos.

A implicação e a compreensão são pré-reflexivas, e pré-conceituais.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos da ação. Da moção, da emoção, e da regeneração. É o modo de sermos da sensibilidade emocionada. Modo de sermos da estética, e da poiética...

O modo ontológico de sermos é  dialógico. Da relação EU-TU.

O modo ôntico de sermos é o modo de sermos da coisidade, da instalação da coisa.


A apreciação de qualquer aspecto ambiental, liminarmente, depende do modo de sermos em que o fazemos.

Assim, a apreciação ôntica do ambiente, prevalecente na Biologia, e em nossa cultura, traz as sua premissas e valorações.

Ou seja: em princípio, de que o ambiente seria uma coisa, composta por um conjunto de coisas. O ambiente seria um objeto. Portanto reflexivo. A premissa de que o ambiente seria conceitual, teorético. E explicativo.

Ora, essas premissas são premissas do modo ôntico de sermos.

Porque, no modo ontológico, o ambiente não é coisa instalada, é ação. O ambiente não é composto por coisas, ou por partes: o ambiente é um todo, diferente da soma de suas partes. O ambiente não é jeto, mas transjeto, não é objetividade, nem subjetividade, mas transjetividade. O ambiente não é reflexivo, mas pré-reflexivo. Não é conceitual. Mas pré-conceitual. Não é explicativo, mas, implicativo. E compreensivo...  O ambiente é, eminentemente, dialógico.


O termo AMBI-ente remete a um ser AMBÍ-guo.  O AMBI-ente é um ente AMBÍguo.

E a ambiguidade do AMBI-ente está  em que, hora ele é ontológico. Hora ele é ôntico.

Hora ele é ontológica da ação. Sentido.

Hora ele é coisa.

Hora ele é pré-reflexivo, e pré-conceitual. Hora ele é reflexivo, e conceitual. O ambiente oscila entre o modo ontológico, e o modo ôntico de sermos. Como a existência.

Nisto reside sua ambiguidade.

Utilizando uma terminologia da dialógica de Martin Buber, ora nos relacionamos com o ambiente ônticamente, como um ISSO; ora como um TU. Ou seja, ora numa relacionamento EU-ISSO, como coisa; ora numa relação EU-TU, ação.

Ao modo do relacionamento EU-ISSO, o ambiente é objeto, objetivo. É reflexivo. E conceitual. É explicativo, e teorético. Reificado conceitualmente, o ambiente e seus seres ônticamente são coisas.

Ao modo ontológico da relação EU-TU, o ambiente não é, objeto; não é, nem pode ser, objetivo... O modo ontológico de sermos é todo ele jeto, ação... Desdobramento de possibilidades... (Buber).

Ainda enquanto EU-TU, o ambiente é ambíguo. Na medida em que o EU e o TU são possibilidades em desdobramento. São poiéticos. Entre eles se constitui a esfera do entre, do DIA. De modo que o EU eventualmente aproxima-se do TU. O TU, ambiguamente, aproxima-se do EU. Em sua esfera de relações. A esfera do entre, do DIA, de interação.


O ambiente é transjetivo.

É pré-reflexivo, implicativo. Sentido (logos) compreensivo, compreensão.

É pré-conceitual. Ação. No NÓS da dialógica EU-TU.

Ônticamente, EU-ISSO, é objeto, teorético. De reflexão.

Ontologicamente, EU-TU, o ambiente se dá à experimentação, e à interpretação fenomenológico existencial. À experimentação, e á hermenêutica fenomenológicas.


O modo ontológico de sermos, é o modo de sermos, poiético. Da atualização de possibilidades. Da ação. É o modo de sermos da emoção, da implicação, da compreensão. A vivência, no modo ontológico de sermos, não é causal, nem pragmática.

Seu caráter pré-reflexivo significa que o ambiente é, todo ele, jeto -- 'jato' da atualização de forças, as possibilidades. Neste modo de sermos, assim, o ambiente não se constitui como ob-jeto (afastamento do jeto). Não se constitui como condição da dicotomia sujeito-objeto. A teorética.

O conceitual significa o decaimento das forças das possibilidades -- cujo desdobramento é a ação.
Com a conceituação, encaminha-se para a conclusão o episódio do modo ontológico de sermos, com a super simplificação de seus produtos, a sua reificação, e caricaturização -- sua passagem de analógico para o conceitual. Com o seu empobrecimento, e desnaturação.

A conceituação marca um limite entre o pré-conceitual, e o conceitual.

O ontológico é pré-conceitual.

Conceitual, o ôntico.

A Ciência clássica elege o modo ôntico de sermos como critério de verdade.

Isto significa assumir, de partida, o viés do ôntico, em sua pobreza, e imobilidade, como base do critério de verdade. Ignorando as características do ontológico.

Ou seja.

Que o ambiente seria explicativo. Seria reificado, conceitual. Que o ambiente seria objetivo, e reflexivo.

O que não é verdade.

Ao modo ontológico de sermos, o ambiente ontológico, é vivido. Constitui-se como implicação, e como compreensão. Constitui-se assim  como sentido, como ação, como processo.

Ação, o ambiente não é objetivo, nem subjetivo. Mas, jetivo, transjetivo. O ambiente é pré-reflexivo, e pré-conceitual. compreensão.

Como objeto, o ambiente, reflexivo,  é, simplesmente, dejeto. Assim como o sujeito.

E não o ambiente na ontológica da presença e atualidade de seu processo..

Na ontológica de sua presença e atualidade, o ambiente é susceptível, e só é acessível, pela exprimentação e pela hermenêutica, pela interpretação, fenomenológico existensial.

Na ontológica de sua dramática, o ambiente é diapoiético, e dialógico.

Isto quer dizer que, não existe ambiente sem a nossa experimentação, sem a nossa interpretação fenomenológico existensial, sem a nossa implicação, sem a nossa compreensão. Sem a nossa confirmação e participação, na dialógica.

Nessa condição, o ambiente -- que não é um objeto  --  é um TU. Ação de uma alteridade. Desconhecido, diferente, diferença. Que só é dado à experimentação, e interpretação fenomenológico existenciais, pelo engajamento em sua diapoiética, e dialógica.

Assim, na diapoiética, e dialógica, com o ambiente, como tu, podemos desvendar/criar um ambiente sempre novo, no modo de sermos ontológico. Modo de sermos do movimento, da emoção, da implicação, e da compreensão. Um ambiente na riqueza de sua multiplicidade, e nexos. Um ambiente criativo, e regenerativo.

O ambiente deixa de ser objeto, e passa a ser o TU de uma diapoiética dialógica, que é um nós. A ser descoberto e desvendado, a ser criado, em sua alteridade.

A reificação do ambiente, e a sua coisificação, objetivação, e conceituação, reduzem o ambiente à imobilidade de seus processos. A uma super simplificação, a um caricatura, a seu aspecto mais pobre, e esquemática. Levando-o a uma alienação progressiva. Até que o ambiente, alienígena, constitui-se cada vez mais como ameaçador, e perigoso. Como inerte, incompreensível.


3. OBJETIVISMO E AMBIENTICÍDIO


O ambi-ente somos nós. O nós de uma diapoiética e dialógica EU-TU. Que, continuamente se recria, na circularidade da finitude e do retorno da vontade de viver.

Nós somos, por excelência, própria e especificamente, o ambi-ente.

Ou seja, somos um ser que é, dinâmica e dialogicamente, íntegro -- anteriormente a qualquer possibilidade de dissociação, de ruptura, ou de dicotomização -- com o que entendemos como meio ambiente. 

Co-originariamente, surgimos com um TU, que ambiguamente, se constitui, indistintamente, como o ser ambi-ental. Eu-Tu, nós mesmos, e o ambiente compomos solidariamente um mesmo ser.

Ser este que continuamente se constitui, própria e especificamente, na vivência, na experimentação e hermenêutica,  fenomenal, de sua integridade dialógica de alteridades, como um logos ambiental. Como um logos fenomenológico, fenomenal, fenômeno ativo, ambi-ental. Como vivência dionisíaca, como cognição. Poiética e fenomenologicamente dissoluta, pré-reflexiva, pré conceitual, e corpo ativa, em suas essenciais, próprias e dialógicas ambiguidades.

O logos da vivência desta pertinência, desta propriedade -- este logos de sermos específica e propriamente ambi-entais --, entretanto, não nos é dado no modo de sermos do objetivismo. 

Uma vez que este logos ambi-ental é, própria e especificamente, fenômeno, fenômeno-lógos, pres-ente. 

Ou seja, característico de nosso modo, ontológico, de sermos de pré-coisa. Presente. 

E não do âmbito ôntico da instalação da coisa, no âmbito da coisidade. E não do âmbito de nosso modo coisificado de sermos; o âmbito próprio dos momentos de nosso modo objetivista de ser. 

O objetivismo não é vivencial, não é fenomenológico. 

Dá-se no espaço e no tempo do mundo acontecido, coisificado, que permite o objeto, no âmbito da dicotomia sujeito-objeto.

Na esfera ontológica do acontecer, ainda não vigora objeto e sujeito. 

Objetividade, e subjetividade. 

Muito menos o objetivismo, naturalmente.

O Objetivismo se move, meramente, no nosso modo de ser coisa. E, no modo de sermos de nós mesmos, e do mundo, como coisa. Caracterizado pela dicotomização das relações sujeito-objeto, que o permitem como tal.

Ainda que, ontológicamente, sejamos, nos vivenciemos, como ambi-entais, dialogicamente íntegros, na lógica compreensiva da constituição do ambi-ente. Não o somos, portanto, no modo não fenomenológico de sermos. Em nosso modo teorético, reflexivo, e comportamental, de sermos. Em nosso modo técnico de sermos, em nosso modo comportamental, pragmático, e realista...

Modos de sermos estes do objetivismo, cada vez mais obsessivo, da civilização ocidental.

É a característica dialógica, eu-tu, do modo ontológico de sermos, que constitui a nossa indefectível integração com o ambiente. E que não permite que possamos nos dicotomizar, com relação a ele, numa relação sujeito-objeto. 

A vivência ambi-ental de ser-no-mundo é, assim, fenomenológica, e intensional. Logos ontológico. 

Logos ontológico, que se esvai nos momentos em que se esvai a nossa vivência fenomenal, em que se esvai como vivência, o nosso modo fenomenal de sermos. E em que nos constituímos, como acontecer, em nossos modos de ser que comportam a dicotomia sujeito-objeto; que comportam sujeitos em si, e objetos em si.

Por questões culturais, a cultura da civilização ocidental afasta-se do modo fenomenológico e existencial de sermos. 

Restringe-o em suas dinâmicas. Dificulta a natural alternância entre os modos ontológico e ôntico de sermos, o modo fenomenológico, e não fenomenológico, de sermos. Privilegiando, não raro às raias da obsessão, a pré-dominância de modos não ontológicos de sermos. Modos esses que constituem, e possibilitam, na dicotomia, cada vez mais arraigada e divergente, das suas relações de sujeito-objeto. Um objetivismo excludente, mecânico, rígido e arrogante. 

E, uma de suas características, que não é das menos importantes: paranóico e destrutivo.

Porque, no exclusivismo do objetivismo, se encontra em questão, o retorno da forças de vida. A impotência, e o niilismo destrutivo. 


O logos fenomenológico que se constitui como lógica ambi-ental, em não sendo da ordem, nem do reino, da dicotomia sujeito-objeto, em não sendo, igualmente, do reino nem da ordem da impotência, do acontecido -- uma vez que a potência do possível só se constitui fenomenológicamente --, o logos fenomenológico ambiental, se constitui, especificamente, como ativo e poiético. Como modo próprio de sermos do pres-ente, e da pres-entific-ação; modo próprio da condição de pré-coisa de sermos, que constitui a nossa existencialidade. Modo próprio, portanto, da vivência do possível, e da atualização de possibilidades, poiético, portanto. Próprio da atu-alidade atoativa, e da possibilitação. 

De modo que, fenomenológico, dialógico, o modo ambiental de sermos, em seu caráter instantâneo, é todo da ordem do ato, da atualização, da ação. Daí a sua característica poiética, hermenêutica, estética, perfeitativa. Daí que estas são as formas essenciais e próprias da vivência e da aproximação ambi-ental.



Não sendo da ordem de nossa condição de coisa, não é da ordem do teórico, do modo reflexivo de sermos; não é da ordem das relações sujeito-objeto, e das relações de causa e efeito; não é da ordem das relações de meios e fins, das relações de utilidade, não é da ordem de uma pragmática; não é da ordem da realidade. Na medida em que é caracteristicamente infiltrado pelo possível, pela possibilidade ativa, em suas dinâmicas de possibilitação, de atualização, poiese...

A menos valia de um modo não útil, não prático, não realista... 

Ainda que ontológico e poiético, ou seja, o modo próprio, e específico, de sermos, e de sermos produtivos. Secundáriamente produtivos, inclusive, de todos os úteis e de suas utilidades...

O modo fenomenológico, modo ativo, atual, de sermos, vai se tornando – no âmbito do objetivismo, cada vez mais, incômodo, inconveniente, amedrontador, fóbico... 

Na medida em que há um afastamento, uma desqualificação, desautorização, dele. 

E à medida que, ontológico, ele não se extingue, e permanece, ameaçadoramente, exercitando a pressão de suas potências ex-pressivas, a sua inerente e intrínseca pulsão, ou seja, ex-pulsão, ação, ato, projetação, -- ex-jetados da potência inexaurível da vivência do possível.

Daí que, dentre outras dimensões -- o corpo, por exemplo, o outro, a comunidade --, o ambi-ente atual, ativo, alteritário, impermanente -- vivenciado própria e especificamente como fenomeno-lógos eco-lógico, dia-lógico -- vai se constituindo, cada vez mais, como incômodo, como inconveniente, amedrontador, fóbico, odiento... Para a pré-dominante consciência objetivista.

Ora -- na medida em que predomina massivamente, na cultura da civilização ocidental, o privilégio de um modo objetivista, não fenomenológico, de sermos. Na medida em que predomina a restrição de nosso modo fenomenológico de sermos --, fenece a atualidade poiética, de nosso logos ambi-ental.

A vitalidade de nós próprios, a nossa vitalidade e filia ambi-ental, depende desta atualidade e atualização poiéticas de nosso logos ambi-ental, fenomemenológico e existencial. Que, como observamos, não é teorético, não é pragmático, não é técnico, não é comportamental, não é realista.

O ambienticídio que vivenciamos, celeremente, na civilização ocidental passa, sobretudo, e antes, pela restrição cultural deste modo fenomenológico existencial ambi-ental de sermos. No qual o ambi-ente nos é dado como pres-ente, e ato-al, atoativo, poiético, dialógico, em nosso modo de sermos de pré-coisa. 

Desta forma, o ambiente nos é dado na civilização moderna, de modo cada vez mais excludente, como objeto, como coisa, o que também constitui como coisa a nós próprios, arrogantes sujeitos, na negação e na violação da dialógica da alteridade dos tempos, espacializações, e ritmos ambientais.

Passa, o ambienticídio, antes e sobretudo, pelo predomínio e super valorização cultural de um modo não fenomenológico de sermos. Que se dá no império da dicotomia sujeito-objeto. Dicotomia esta que permite, como tal, o objetivismo; e em particular o objetivismo do ‘ambiente’. Que é agora entendido meramente como objeto, como coisa, a ser malbaratadamente manipulada, com as conseqüências que conhecemos.

Esta não é a característica de todas as civilizações. Passsadas ou presentes, elas entendem e explicitam o logos ambientaal:

A civilização ocidental não perderia em escutar os antigos (TZU, 1961). Chuang Tzu nos traz a milenar sabedoria zen:

Quereria alguém arrebatar o mundo e dele fazer o que quisesse?
Não vejo como poderia ter sucesso.
O mundo é um canal sagrado, que não deve ser indevidamente manipulado, nem agarrado. Manipulá-lo indevidamente é espoliá-lo, agarrá-lo é perdê-lo. 
Para todas as coisas, na verdade, há um tempo para ir à dianteira, e um tempo para seguir à retaguarda. Um tempo para a respiração lenta, e um tempo para a respiração acelerada; um tempo de aumento de força, e um tempo de decadência. Um tempo para estar de cima, e um tempo para estar de baixo. 
O sábio, portanto, evita todos os extremos, excessos e extravagâncias.


D. T Suzuki (1970), ainda, observa, com indignação a chegada no Japão da 'civilização ocidental':

No Oriente (...) esta idéia de submeter a Natureza ao domínio ou ao serviço egocêntrico do homem nunca foi apreciada. Porque a natureza nunca deixou de ser magnânima, e não é um tipo de inimigo a ser submetida ao poder do homem. 
Nós do Oriente nunca concebemos a natureza sob a forma de um poder oponente. Ao contrário, a natureza tem sido nossa amiga e companheira constante, na qual confiamos absolutamente. A despeito dos freqüentes terremotos que acometem a nossa terra. 
A idéia de conquista é detestável. 
Se conseguirmos escalar uma alta montanha, por que não dizer, ‘Fizemos uma grande amiga’? Não faz parte da atitude Oriental com relação à natureza buscar à nossa volta objetos para conquistar.
Escalamos, sim, o Fuji, também, mas a intenção não é a de ‘conquistá-lo’. A intenção é a de nos impressionarmos por sua beleza, grandiosidade, e quietude indiferente. 
É, igualmente, para reverenciar um sublime sol matinal, ascendendo esplendidamente por detrás de nuvens multicoloridas. 
Isto não é, necessariamente, um ato de veneração do sol; ainda que não haja nisso nenhum ato espiritualmente degradante. O sol é o grande benfeitor de toda a vida sobre a terra. E é apenas inerente a nós, seres humanos, aproximarmo-nos com um profundo sentimento de gratidão, e de estima, de um benfeitor, de qualquer tipo, animado ou inanimado. (...). 
Algumas das maiores montanhas de interesse popular no Japão são hoje em dia servidas por teleféricos, e o pico é facilmente alcançado. O utilitarismo materialista da vida moderna necessita desses artifícios, e talvez não se possa escapar deles; eu próprio recorro freqüentemente a eles, por exemplo, quando subo em direção ao Hiei, em Kyoto. Meus sentimentos, entretanto, sobem em revolta. A vista da linha eletricamente iluminada à noite reflete o sórdido espírito moderno de ganho, e de caça prazeres. 
Que o Monte Hiei, a nordeste da antiga capital do Japão -- a que Dengyo Daishi (767 – 822) originalmente consagrou com o seu monastério Tendai, e outras instituições de sua ordem --, seja tratado com tal mercantilismo inescrupuloso é, sem dúvida, motivo de pesar para muitos devotados compatriotas. 
Na atitude com relação à Natureza existe um sentimento altamente religioso, que eu gostaria de ver, mesmo nestes dias de ciência, de Economia e guerra.


A desconcertante resposta do Cacique Seattle ao presidente dos Estados Unidos, que queria comprar a sua terra, é o testemunho profundo de uma profunda vivência eco-lógica ambi-ental, expressão profunda de logos ambi-ental.

O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao seu próprio mau cheiro. (...)
Vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitar, imporei uma condição: O homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
O que é o homem sem os animais?
Se os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, logo também acontece com o homem. Há uma lição em tudo. Tudo está ligado.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com a vida de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontece à Terra, acontece também aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Disto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem é que pertence à terra. Disto sabemos: todas as coisas então ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
Tudo o que acontece à terra acontece, também, aos filhos da terra.
O homem não teceu a teia da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que o homem fizer ao tecido, estará fazendo a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala como ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos.
De uma coisa estamos certos (e o homem branco poderá vir um dia a descobrir): Deus é um só, qualquer que seja o nome que lhe deem. Vocês podem pensar que O possuem como desejam possuir a nossa terra. Mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e sua compaixão é igual para o homem branco e para o homem vermelho. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar o seu Criador. Os homens brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Sujem suas camas, e uma noite acordarão sufocados pelos próprios dejetos.
Ao desaparecerem, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra, e que, por alguma razão especial, lhes deu o domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois somos selvagens, mas não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos das florestas densas impregnados do cheiro de muitos homens, e a vista dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o inicio da luta para sobreviver.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa Idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar, e o brilho da água, como é possível comprá-los.
Cada pedaço de terra é sagrado nas tradições de meu povo. Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira, e inseto a zumbir, são sagrados na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho...
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.
Se lhes vendermos a terra, vocês devem se lembrar de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada, e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar para seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E que, portanto, vocês devem doar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e rouba da terra tudo de que necessita. A terra, para ele, não é sua irmã, mas sua inimiga e, quando ele a conquista, extraindo dela o que deseja, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rouba da terra aquilo que seria de seus filhos, e não se importa... Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei... Os nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez porque o homem vermelho seja um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera, ou o bater de asas de um inseto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído das cidades parece somente insultar os ouvidos. E o que resta de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave, ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho, e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpado por uma chuva diurna, ou perfumado pelos pinheiros.



O nosso maestro Antonio Carlos Brasileiro (Tom) Jobim (2002), perplexo, imagina e convoca, originalmente em Inglês, do fundo da Mata Atlântica brasileira:

Let there be flowers
Deixemos que haja flores

Let there be spring
Deixemos que haja a primavera

We have few hours to save our dream
Poucas horas temos para salvar o nosso sonho

Let there be light
Deixemos que haja a luz

Let the bird sing
Deixemos o pássaro cantar

Let the forest be forver green
Deixemos a floresta para sempre verde ser

Little blue planet in great need of care
Pequeno planeta azul, tão necessitado de cuidado

Crystal clear streams
Regatos claramente cristalinos

Lots of clear air
Enormidades de ar claro

Lets save the Earth
Salvemos a terra

What a wonderfull thing
Que coisa maravilhosa

Let it be forever green
Deixemo-la para sempre verde

Imagine mother Earth become a desert
Imagine a mãe terra transformada em um deserto

A poison sea, a venomous lagoon
Um mar de veneno, uma lagoa envenenada

And life on planet Earth be gone forever
E a vida na terra para sempre desaparecida

And God will come and ask for planet blue
E Deus virá e perguntará pelo planeta azul

What to do
O que fazer

Where is the paradise
Onde está o paraíso

I’ve made for you
Que eu fiz para ti

Where is the green
Onde está o verde

And where is the blue
E onde está o azul

Where is the house
Onde está a casa

I’ve made for you
Que eu fiz para ti

Where is the forest and
Onde está a floresta

Where is the sea
Onde está o mar

Where is the place good for you, good for me
Onde está o lugar bom para ti, e bom para mim

Let’s save the Earth
Salvemos a terra

What a wonderfull thing
Que coisa maravilhosa

Let the bird fly, let the bird sing
Deixemos o pássaro voar, deixemos o pássaro cantar

(Let them sing Luísa)
(Deixemo-los cantar Luísa)

Let it be forever green
Deixemos para sempre o verde ser

Where is the paradise
Onde está o paraíso

I’ve made for you
Que fiz para ti

Where is the green
Onde está o verde

And where is the blue
E onde está o azul

Where is the house
Onde está a casa

I’ve made for you?
Que eu fiz para ti?






Referências:

JOBIM, Antonio. Little Blue Planet. in ANTONIO BRASILEIRO JOBIM. 2002.
SUZUKI, D. T. ZEN AND JAPANEASE CULTURE. Princeton, Princeton University Press, 1970.
TZU, Lao TAO TEH CHING. Boston, Shambala, 1961.





4. PARA AQUÉM DA ECOLOGIA

No trato com, na apreensão, interpretação, e avaliação, éticas, do Ambiente, a popular noção de Ecologia remete, apenas, a uma perspectiva objetivista, causal, quantitativa, e utilitária, do ambiente.
Na restrição própria à qual, se limita o ambiente a sua condição ôntica de coisa, de acontecido.Na melhor das hipóteses, o ambiente é um escravo, que "que presta 'serviços'".

Perde-se o Ambiente, na eticidade de sua ontológica.

Perdendo-se com esta restrição a possibilidade da efetiva compreensão do ambiente, de sua efetiva interpretação, experimentação, e avaliação, éticas.

Carecemos, assim, da perspectiva de uma ciência compreensiva, e implicativa – o que vale dizer, estética.

E portanto, para tal, pré-condição, carecemos do privilegiamento da perspectiva de uma relação compreensiva e implicativa, estética, ética, com o Ambiente.

De modo que possamos evitar a restrição dele à perspectiva ôntica de sua objetividade, a restrição dele à perspectiva ôntica de sua causalidade, de sua experiência proposital, de sua utilidade e
utilização, práticas, pragmáticas.

Que apenas vigoram na condição do ambiente como coisa, e do ambiente acontecido – e não na condição de sua vivência ontológica.

Desprovida aquela da própria e específica eticidade ontológica do Ambiente. Compreensiva, e implicativa; desproposital, não objetiva, nem subjetiva – nem intersubjetiva –, acausal, não útil, não pragmática (a não ser que se trate de uma pragmática da inutilidade).



A. O ONTOLÓGICO.
O ONTOLOGOS DO MODO ONTOLÓGICO DE
SERMOS, E DE SER O AMBIENTE.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos em que vivenciamos a constituição implicativa e compreensiva, pré-explicativa, pré-reflexiva, pré-teorética, pré-comportamental, fenomenológico existencial e dialógica, do logos – do sentido. Cuja constituição caracteriza-nos enquanto humanos.

No modo pré-reflexivo de sermos, vivencial, fenomenológico existencial e dialógico de sermos, ontológico, vivenciamos forças que podem devir, as possibilidades.

Como forças, as possibilidades se dão em desdobramento. Desdobramento este que é, própria e especificamente, a ação, a interpretação (Compreensiva). Nas quais as possibilidades se constituem como consciência pré-reflexiva, implicativa. Constituem-se como compreensão, e musculação.

Compreensão sempre, a ação, a interpretação fenomenológica, compreensiva, pode se dar meramente com compreensão; ou pode ser compreensiva e musculativa.

O modo ontológico de sermos é um modo de sermos que se dá anteriormente ao modo de sermos em que vigora a dicotomia sujeito-objeto.

Pour cause, e da mesma forma, é um modo desproposital de sermos.

No qual não vigora a causalidade, nem vigora a utilidade, nem o propósito voluntário. Na medida em que é possibilidade em desdobramento, atualização, ação, interpretação compreensiva, acontecer, este modo de sermos não é -- na momentaneidade instantânea da sua duração -- da ordem coisificada, e realizada, acontecida, da realidade.

É ação, o próprio acontecer, a atualização, a realização da possibilidades.

Neste modo de sermos, portanto, o Ambiente se dá em sua eticidade ontológica.

E não é um objeto, mas o tu de uma dialógica eu-tu.

Não é causal, nem objeto da ação proposital – é desproposital.

Não objeto e não causal, não é e nem se dá no modo de sermos dos
úteis e das utilidades.

A objetividade, a causalidade, o propósito, a utilidade dão-se no modo ôntico de sermos. Passado a instantaneidade momentânea do momento ontológico.


B. O AMBIENTE NÃO ONTOLÓGICO. O AMBIENTE COMO COISA, E COMO
ACONTECIDO. O AMBIENTE COMO ENTE: O AMBIENTE ÔNTICO.

Existimos – e, com isto, existe o ambiente --, alternativamente, de um modo ora ôntico, e de um modo ora ontológico.

Ou seja, alternativamente ao modo de existirmos, igualmente o ambiente existe de um modo ôntico ou de um modo Ontológico.

É muito impressionante, percebermos que a carência da perspectiva de uma Ontologia, e de uma Epistemologia ontológicas, fenomenológicas e existenciais -- seja no senso comum da cotidianidade, seja em Biologia, e nas demais ciências ambientais --, sempre levou, e leva, a uma restrição a sua perspectiva e condição ônticas a experiência e concepção do ambiente. E ao ignoramento, e à desconsideração, pelo Ambiente em sua relação e dimensão própria e especificamente ontológicas.

Ora --como tudo --, apenas em sua ontológica o Ambiente pode se dar como verdade.

Apenas na instância do acontecer da momentaneidade instantânea de sua ontológica -- que é ação, que é interpretação, hermenêutica; e a experimentação, fenomenológico existenciais -- é que o Ambiente pode se dar, efetivamente, em seu ethos, em sua condição, e em sua ética, própria e especificamente, Ambientais.

Quando nos limitamos ao ambiente em sua objetividade, ôntica, objetiva, ou subjetiva, causal, proposital, útil, pragmática -- ainda que seja esta natural, e, igualmente, constituinte do Ambiente --,
perdemos, não apreendemos, não podemos conhecer, e avaliar, o Ambiente em sua essência, que é existencial; o Ambiente ontológico.

Fenomenológico e existencial, compreensivo, implicativo, não objetivo, nem subjetivo, nem intersubjetivo; não causal, fora da utilidade; desproposital, na instantaneidade momentânea de sua
vivência.

De modo que, quando nos limitamos ao Ambiente em sua condição ôntica, quando nos limitamos ao ambiente em sua condição objetiva, quando nos limitamos ao Ambiente em sua condição de
coisa, em sua condição de acontecido, não somos a relação com o Ambiente em sua condição ética, em sua condição ontológica, em sua condição estética. Não vivenciamos o Ambiente como vivência de um acontecer fenomenológico existencial, ontológico. Que reconhece, e que conhece que interpreta e avalia, o Ambiente na sua efetiva condição de um tu alteritário radical. Que só se pode dar, só se pode conhecer, interpretar, e avaliar, na pontualidade da instantaneidade momentânea, e ontologicamente recorrente, do evento desta relação.

O Ambiente, estético, em sua estética – em sua ética de estesia -- ontológica, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva, implicativa, e afetiva.

O ambiente enquanto ecossistema, e enquanto 'ecologia', é, apenas, o ambiente ôntico, o ambiente explicativo -- e não implicativo. Teorético, ou comportamental. O ambiente como coisa, como acontecido, o ambiente objetivo, como objeto, na percepção de um sujeito.

Como tal, o ambiente na condição do espectador, imóvel e anafetivo.

E não Ambiente, como ação, na intrínseca condição dialógica do ator Eu-Ambiente.

É, portanto, o ambiente causal, proposital. O ambiente como utilidade. (Como solo de commodity? como pasto?...).

A limitação restritiva do Ambiente aos conceitos e a termos como os de Ecossistema, Ecologia, como significativos do Ambiente, da Ambientologia, são, assim, enormes, e inacreditáveis, cavalos de
Tróia, no seio da própria Biologia, da própria Ecologia, e das culturas ambientais conservacionistas.

Isto porque a restrição aos conceitos, e aos termos, à Ontologia e a Epistemologia de conceitos e termos como Ecologia e Ecossistema, de cunho eminentemente objetivista, está em flagrante e total desacordo, em total dissonância com, e ativamente conspiram, contra o ethos ontológico e a Ética Ambiental; contra o Ambiente vivido e vivenciado em sua efetiva ontológica. Na verdade, porque esta restrição nega a ética Ambiental, nega o Ambiente em sua ontológica, e o Ambiente como tal.

No modo de sermos de sua (nossa) ontológica, fenomenológico existencial e dialógica, o Ambiente não se dá como objeto; e não o vivenciamos na condição de sujeitos.

Porque, em sua ontológica, o Ambiente se dá aquém da objetividade, e aquém da dicotomia sujeito-objeto. Como fenomenologia da dialógica ambiental, que é relação eu-tu. E que não é da ordem do modo de sermos da dicotomização sujeito-objeto.

Na momentaneidade instantânea da vivência ética, hermenêutica, e fenomenológico existencial experimental, do Ambiente; em sua ontológica, somos atores despropositais, no desdobramento compreensivo e implicativo de possibilidades.

Possibilidades estas que – no dizer de Buber – não produzimos, mas que não acontecem sem nós.

De modo que, na instância desta momentaneidade instantânea -- nem sujeitos, nem objetos --, somos projetos. Jetações, projetações, ex-pressões compreensivas, e implicativas, do desdobramento do possível, de possibilidades...

Possibilitações que se ex-pressam, que se e-jetam, enquanto modo de sermos da ação, da experimentação, e da interpretação implicativa e compreensiva. Ação, moção, emoção. À força da possibilidade.

Em sua ontológica, o Ambiente é implicativo. Não é explicativo – seja explicativo teorético, seja explicativo comportamental.

Em sua ontológica o Ambiente se dá, e damo-nos nós, compreensivamente. E implicativamente; como vivência gestáltica, de totalidades significativas, que se organizam compreensivamente.

A partir de uma multiplicidade de possibilidades vivenciais, organizadas em suas dominâncias como plexos.

Em sua ontológica, em sua ética, o Ambiente não se dá no âmbito da causalidade. Porque ele é o acontecer, o desdobramento, a ação, a interpretação compreensiva, a experimentação, fenomenológico existencial empíricos, de plexos de possibilidades, na momentaneidade instantânea de seu acontecer.

Em sua ontológica, no modo ontológico de sermos, o Ambiente, intensional e implicativamente fora da dicotomia sujeito-objeto, não é da ordem da utilidade.

 Ontológicamente, o Ambiente não existe no modo de sermos dos úteis, e das utilidades.

Ainda que seja este modo ontológico de sermos, própria e especificamente, o modo de sermos no qual, poiética e esteticamente, são produzidos todos os úteis, e todas as utilidades.

A partir da vivência ontológica da atualização de possibilidades.

Não existem úteis e utilidades que não tenham sido produzidos poiética e esteticamente...

Em termos ontológicos, como próprio ao modo de sermos da atualização de possibilidades, em termos de ética: de estética, ambiental, não podemos dizer igualmente que o Ambiente seja da
ordem da realidade.

A realidade é da esfera do modo ôntico de sermos do acontecido.

Em sua ontológica, o ambiente é da ordem de sermos do acontecer. Ou seja, é vivência de ação, de interpretação, de hermenêutica, e de experimentação Ambientais.

Que são da ordem do acontecer, e da ação – da vivência fenomenológico existencial, e dialógica.

A objetividade do acontecido é que se constitui como realidade. O Ambiente é vivência intensional.

O conservacionismo, a sustentabilidade, a relação, o conhecimento, a avaliação do Ambiente, decorrem, e dependem, da Ética Ambiental. Ambientológica. Ambientalética. Ambientalestética.


Que não são ônticas, portanto. Que não são objetivistas, que não são propositais, que não são da ordem ôntica da causalidade, nem da ordem da utilidade, nem da prática. Mas que são
eminentemente, própria e especificamente, ontológicas, compreensivas, e não explicativas; implicativas, fenomenológico existenciais. Fora da objetividade, da subjetividade, fora do âmbito
da dicotomia sujeito-objeto.

É de surpreender como, no meio dos honestamente interessados na sustentabilidade e no conservacionismo ambiental, se instale e prospere, com um papel tão importante, a limitação e a
restrição do Ambiente a sua condição ôntica, a termos e a conceitos como tais, e assemelhados.

Restrição que é objetivista, explicativa.

E que, enquanto tal, já é aniquilação conceitual do Ambiente.

Em contraposição ao reconhecimento do Ambiente enquanto logos --  ao reconhecimento do Ambiente ontológico,  ao reconhecimento do ethos ontológico, e da ética, Ambientais; em contraposição ao logos implicativo, compreensivo, e fenomenológico existencial, e dialógico, ontológico, e da ética ambientais.

Assim, em termos cognitivos, de um modo ético, cientificamente compreensivo, implicativo, ontológica, e epistemologicamente, a nossa relação com o Ambiente não é do tipo da relação objetivista que temos com a casa (oikos).

Em suas, e em nossas, condições ontológicas, o Ambiente não se dá como uma casa.

Eticamente, esteticamente, poieticamente, ontologicamente, as relações que temos com o Ambiente não são das do tipo das que temos com uma casa. Como implica a raiz oikos, de Ecologia.

A casa se realiza na ordem ôntica da coisa, na ordem ôntica da coisidade, e do acontecido, no âmbito da cotidianidade. Ainda que em alguns momentos possa se dar em sua condição ontológica
originária: de casa.

O Ambiente em sua essência, existencial, é da ordem da vivência ontológica; e, como tal, não é da ordem ôntica do acontecido. É pré-reflexivo, pré-conceitual. Da ordem da vivência ontológica do acontecer.

Da Ação, da hermenêutica, e da Experimentação fenomenológico existenciais.

Em sua, nossa, ontológica, o Ambiente não é objeto, não somos sujeitos. Mas atores (e o ator não é um sujeito...), vivenciais, hermenêutica, e experimentalmente, no âmbito de uma dialógica eu-tu.

O Ambiente, então, é um tu. E, nunca, neste modo de sermos, um objeto.

Em sua ontológica, e em sua ética -- na medida em que se remete à humanidade como um todo, e a objetivações para si, e não apenas a uma integração humana particular, e a suas objetivações
em si -- o Ambiente não é do âmbito da esfera social do cotidiano.

Mas da esfera extra cotidiana da vida social.

A casa remete à cotidianidade.

Em particular, e em especial, em sua ontológica, temos com o Ambiente uma relação implicativa e intensional, no modo de sermos ambientais. Que remete a nossa relação com o Ambiente a uma
vinculação  muito mais originária do que a que temos com a casa.

De modo que somos, devimos, no âmbito desta dialógica; à (des)medida em que o ambiente devém, na nossa experiência da Ação, da interpretação, e da experimentação, e da avaliação,
fenomenológico existenciais.

Em suas atualizações e hermenêutica, o Ambiente é vivência desproposital – como toda vivência ontológica.

Assim, não sendo análogo a uma casa, dos seres vivos, em sua ontológica, em sua Ética, o Ambiente é o tu, parceiro intensional e dialógico, da momentaneidade instantânea de desdobramento da
ação.

Considerando a Ontológica e a Ética Ambientais, portanto, o Ambiente não pode, em sua essência ontológica, ser tratado objetivamente. Ou como implica o conceito de oikos, como a ideia
continente de uma casa dos seres vivos, do homem.

De tal forma que a restrição aos termos e conceitos de Ecologia e de Ecossistema é imprópria, inadequada, e danosa. Impede, lá no seu âmago, o desenvolvimento da mentalidade de uma cultura
conservacionista e sustentável, ontológica. O desenvolvimento de uma cultura consonante com a Ética, e ontológica, Ambientais.

Simples e flagrantemente, o que falece, nesta restrição do ambiente a sua condição ôntica, é o reconhecimento do Ambiente em sua condição ontológica. Ou melhor, o reconhecimento de que, como tudo, o Ambiente, em todos os seus detalhes e nuances, se dá alternativamente, de um modo ora ôntico, e de um modo ora ontológico. Dá-se como coisa; e como presença e atualidade. Dá-se
como acontecido, e como acontecer. Dá-se ôntica, e ontológicamente. Ôntica, e éticamente: poiética e esteticamente.

E, no máximo, os termos Ecologia, e Ecossistema, por exemplo, se referem ao ambiente como coisa, ao ambiente em suas condições ônticas. Ao ambiente explicativo – e não o Ambiente implicativo e
compreensivo. Ao ambiente como coisa, como acontecido. E não ao Ambiente como presença e atualidade – e não ao ambiente em sua condição ontológica.


C. UM ENTE AMBÍ-GUO EM SUA AMBIGUIDADE. O AMBI-ENTE.

O Ambiente se define, própria e especificamente, eminentemente, por sua ambiguidade.

Pela ambiguidade que, linguisticamente, lhe dá o nome.

E o Ambiente é 'ambíguo' porque -- como tudo em nossa existência, e insistência, inclusive os seres com os quais nos relacionamos --, o Ambiente alterna, intermitentemente, entre uma condição ontológica de acontecer, e uma condição ôntica de acontecido. Condições estas que respectivamente correspondem aos nossos próprios modos ontológico, e ôntico, de ser.

Isso corresponde a dizer que o Ambiente alterna entre o modo eu-tu, ontológico; e o modo eu-isso, ôntico, de sermos.

Também, ao modo ontológico, ao modo eu-tu, de sermos, particularmente, ao modo de sermos de nossa vivência -- e de ser o Ambiente, – gravitamos, e o Ambiente gravita, ainda, na alternância, mais uma vez ambígua, compartilhadamente sentidativa, entre os pólos de uma dialógica eu-tu.

O Ambiente, assim, ambiguamente alterna, em consonância conosco, entre os modos Ontológico e Ôntico de sermos. E, na instantaneidade momentânea do modo ontológico de sermos, nós mesmos e o Ambiente, gravitamos na movimentação de uma dialógica eu-tu.

Especificamente, a relação eu-tu, que não é uma relacionamento sujeito-objeto, eu-isso.

O relacionamento objetivo, eu-isso, se constitui posteriormente, de um modo inevitável. Ensejando, em seguida, mais uma vez, o retorno ao modo ontológico de sermos.

Numa alternância infinita.

O modo dialógico, eu-tu, de sermos se supera no modo eu-isso de sermos, na (des)medida em que este modo ontológico de sermos, eu-tu, é um modo de sermos de vivência, que se dá anteriormente à experiência da dicotomia sujeito-objeto.

Da mesma forma que, como vivência do desdobramento de possibilidades, o modo ontológico de sermos não é, como observamos, da ordem da causalidade, das relações de causa e
efeito; não é da ordem de uma ciência explicativa. Já que é implicativo e compreensivo; e não é da ordem da utilidade.

No modo ontológico de sermos, o Ambiente se dá como vivência.

Dá-se como vivência de sentido. Que é vivência de possibilidade, do desdobramento de possibilidade. Que é, portanto, a vivência de ação, de experimentação, e interpretação, fenomenológico existencial. Desproposital. O acontecer, num sentido ontológico.

A vivência do acontecer, da ação, da interpretação, fenomenológico existenciais, é compreensiva, e não explicativa.

Isto quer dizer que na vivência fenomenológica vivenciamos um plexos, uma multiplicidade de possibilidades, que organizam a sua dominância nos processos gestálticos de formação de figura e fundo.

Na organização da dominância intrínseca da multiplicidade de suas possibilidades, a vivência da ação, do acontecer, do modo ontológico de sermos, portanto, é implexativa, é implicação, é implicativa.

E não explicativa.

Assim, o modo ontológico e ético, no qual o Ambiente se constitui em sua ontológica de sentido, modo dialógico de sermos, além de ser um modo de sermos, e de ser o Ambiente, que é anterior
à dicotomia sujeito-objeto, além de ser um modo de sermos que não se dá no âmbito da causalidade, nem no âmbito da utilidade, é um modo de sermos compreensivo, e implicativo.

Assim, em sua ética, e em sua ontológica, o Ambiente, enquanto tal, não se dá, nem se submete ao âmbito de uma ciência explicativa -- e não compreensiva, e não implicativa. Ciência esta,
não implicativa, pautada pela explicação. Ou seja, pelo modo não implicativo de sermos, não vivencial; pautada pelo modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto, pela objetividade e pela subjetividade, pela relação de causa e efeito, pelo proposital, pela utilidade.

Em sua ética, e em sua ontológica, no seu modo eticamente ontológico, no nosso ético e ontológico modo de sermos, o Ambiente só pode própria e especificamente ser apreendido, ontologicamente,
implicativamente, compreensivamente, fenomenológico existencial, e dialogicamente. Ao modo, portanto, compreensivo, e implicativo de sermos, e de ser o Ambiente. Fora, portanto, anteriormente, ao modo de sermos da objetividade, da dicotomização sujeito-objeto. De modo não causal. E do modo de sermos em que vigoram os úteis e as utilidades.



D. O AMBIENTE ONTOLÓGICO. O AMBIENTE COMO PRESENÇA E
ATUALIDADE. O AMBIENTE PRÉ-ENTE (PRESENTE), E ATU-AL.

Como observamos, este modo ontológico de sermos é o modo de sermos do acontecer.

O modo de sermos que se dá anteriormente à coisidade do acontecido. Anteriormente ao modo de sermos da coisa. Ou seja, anteriormente ao modo ôntico de sermos; ao modo de sermos do ente.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos do acontecer, porque é o modo de sermos em que, compreensiva e implicativamente, vivenciamos forças, potências, possibilidades. O modo de sermos em que compreensiva e implicativamente vivenciamos possibilidades; e o desdobramento de possibilidades. Ou seja, a ação, a atualização, a interpretação, e a experimentação fenomenológico existenciais.

Implicativas e compreensivas.

O modo ôntico de sermos, modo de sermos do ente, o modo de sermos da coisa, do acontecido, é um modo de sermos que é précedido pelo modo ontológico de sermos, pelo modo implicativo e compreensivo de sermos. Modo implicativo que é vivência de possibilidades, que é vivência compreensiva da ação, da interpretação, da implicação fenomenológico existenciais. Da compreensão.

De forma que, se o modo ôntico de sermos é o modo de sermos do ente; o modo ontológico de sermos é o modo de sermos do 'préente', ou seja, o modo de sermos do pré(s)ente, da presença.

Da mesma forma que, enquanto modo de sermos da ação, da atualização, da interpretação, e da experimentação, fenomenológico existenciais, é o modo de sermos do ato, o modo de sermos da
ação, o modo de sermos da atualidade.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos, assim, da presença e da Atualidade.

No seu, e no nosso, modo ôntico de sermos, o ambiente, é coias; e, por isso, acontecido, e passado.

Objetivo, causal, proposital, útil.

No nosso modo ontológico de sermos o Ambiente – igualmente compreensivo, e implicativo, fenomenológico existencial, hermenêutico, experimental, desproposital, e dialógico – o Ambiente
é presente, presença, e atualidade.



E. ÉTICA AMBIENTAL & ECOLOGIA.

A ética Ambiental -- somente na qual o Ambiente pode ser apreendido, integral e efetivamente ser compreendido, experimentado, interpretado, avaliado -- a momentaneidade instantânea de sua vivência ontológica --, é a momentaneidade instantânea da vivência compreensiva, e implicativa. Fenomenológico existencial e dialógica.

Assim, o Ambiente dado na perspectiva explicativa, e objetivista da Ecologia -- não importa a sua inevitabilidade, importância, causalidade, utilidade, e objetividade --, não é o Ambiente em sua ontológica, não é o Ambiente ontológico, essencial, existencialmente.

Neste modo de sermos, e de ser o Ambiente, o Ambiente pode ser apreendido, compreensiva e implicativamente, fenomenológico existencial, e dialogicamente. Eticamente. Na sua interpretação e hermeneutica.

O Ambiente em sua eticidade própria, somente na qual ele pode ser apreendido compreensivamente, criado, implicativamente, experimentado, e interpretado, eticamente valorado, e avaliado.



F. ASSIM, AMBIENTE, AMBIOSISTEMA, AMBIOLÓGICA, AMBIOLOGIA

Se não podemos, nem é de se evitar, o ambiente em sua condição ôntica, o Ambiente em sua condição de coisa – inclusive na sua objetividade, na sua manejabilidade, e na sua causalidade, utilidade --, não podemos ignorar, naturalmente, o Ambiente na ontológica de sua essência -- existencial. Ou seja, o Ambiente na ontológica de sua condição ética. E a importância ontológica desta condição.

Nem termos, ou conceitos, temos para designar o Ambiente na condição desta sua vivência ontológica. Que certamente não seriam os derivados de Ecologia. Na verdade, termos e conceitos como os de Ecologia, Ecossistema, serviços ambientais, apenas se remetem ao ambiente em sua condição ôntica de coisa.

A designação do Ambiente numa perspectiva ética e ontológica pode partir dos sentidos do próprio termo e conceito, ontológico, e dialógico, de Ambiente.

O Ambiente como o âmbito ambíguo deste ser ambiental.

Que ora é coisa, ora é vivência ontológica de sentido; ora, na normalidade de nossa cotidianidade, é passado; ora é presente, presença, e atualidade, na momentaneidade instantânea de nossa vivência ontológica, implicativa, e compreensiva, e dialógica. Este ser que ora é o isso de um relacionamento eu-isso. Mas que, na essência de sua ontológica ética, é sempre o tu de uma dialógica eu-tu. Sempre e
sempre, em sua eticidade, fenomenológico existencial experimental, hermenêutica, pré-reflexiva, e pré-conceitual.

Ou seja, sempre, e sempre, interpretação e experimentação, compreensivas e implicativas.

Intrinsecamente éticas. Não objetiva, nem subjetiva – nem intersubjetiva, naturalmente.

Desproposital.

E criatividade gratuita da ação do desdobramento de possibilidades, na dialógica eu-tu da ação, da atualização.

Assim, precisamos entender que termos como 'ecologia', termos como 'ecossistema' se referem ao ambiente ôntico. Não são próprios à designação do Ambiente em sua ontológica.

Ambiente, em seu sentido ontológico, é o conceito mais abrangente nestes termos. Dele derivados, podemos, tentativamente, pensar em termos como ambiossistema, ambiologos, ambiológica,
ambientalética, ambiental estética, e asssemelhados.



G. IMPLICAÇÃO, A MULTIPLICIDADE INTRÍNSECA E INFINITA DA
BIODIVERSIDADE, E A INESPECIFICIDADE E LIMITES DA EXPLICAÇÃO.

As condições e características da Biodiversidade colocam em  xeque, e em crise, a exclusividade do paradigma da epistemologia, e da ontologia, explicativas, no trato com o Ambiente. Por causa, simplesmente,  da infinitude plástica, formativa – plasticamente infinita, e infinitamente plástica, proliferante, proliferativa – da multiplicidade da Biodiversidade.

Esta multiplicidade só pode ser apreendida implicativamente. Compreensivamente, experimental e hermeneuticamente, esteticamente -- de um modo fenomenológico existencial, e dialógico, ontológico.

A multiplicidade de formas, e de formação, alteritárias, da Biodiversidade, seu caráter contínuo de mudança, tem um caráter tão intrínseco, que ela não pode ser apreendida objetivamente, ou seja, explicativamente. Em particular, porque somos partes, implicadas, nesta biodiversidade, e ela é permanentemente formativa e cambiante.  Tanto no seu todo, como em cada um de seus detalhes.

A explicação é como o método de Jack o estripador: 'Vamos por partes'. É o típico modo conceitual.

Podemos lidar com a Biodiversidade como lidaria Jack o estripador: por partes, se com ela lidamos  num modo de sermos explicativo... Assim o faz a Ciência tradicional... À custa de destruir seu objeto de estudo.

No modo explicativo, caracterizada pela relação sujeito objeto, causal, e pragmática, lidamos com a Biodiversidade como partes que se destacam do todo. E se multiplicam de modo infinito, e cada vez mais caótico... Perdemo-nos nas partes da dinâmica implicativa e dialógica da relação parte-todo.

Ao confrontarmos com a Biodiversidade, precisamos de um método analógico,  que lide com 'o todo que é diferente da soma das partes'. Este método é o método gestáltico, compatível com a ontológica, com a experimentação, e a hermenêutica fenomenológico existenciais dialógicas.

A questão, verdadeiramente, é a questão do modo de sermos com o qual lidamos com a Biodiversidade.

E podemos  lidar com a Biodiversidade no ontológico modo de sermos da compreensão e da implicação. Como lida fenomenologia existencial, compreensiva, com totalidades significativas e
cambientes, e em processo criativo, vivenciais, num modo implicativo de ser. Vale dizer, modo estético de ser, compreensivo, fenomenológico existencial, e hermenêutico, experimental, e dialógico.

A Biodiversidade se dá, então, como totalidades significativas, que são diferentes da soma de suas partes. Como gestalts, organizativas, generativas, e constitutintes, compreensivamente, de sentido.

Multiplicidades implicativas.

Neste modo implicativo de sermos, ontológico, em cada uma de seus detalhes, a Biodiversidade se dá como Como multiplicidades. Como plexos de multiplicidades. Mas multiplicidades organizadas como totalidades de sentido, gestalts. Que se organizam compreensivamente em totalidades significativas articuladas e criativas, em seus mais diversos níveis, como totalidades diferentes da soma de partes.

A qualidade de implicação da vivência fenomenológico existencial dialógica, ontológica, experimental e compreensivamente hermenêutica, remete à característica de que esta vivência sempre se dá em plexos, em gestalts, que se sucedem, e se constituem significativamente, como a dominâncias, de um conjunto, de uma multiplicidade, de possibilidades.

A dominância, que se constitui pré-reflexivamente -- como compreensão, na instantaneidade momentânea de sua vivência --, é o plexo, é gestalt. A organização, o entrançamento dinâmico,
gestáltico, implicativo, da intrínseca multiplicidade da vivência do desdobramento de possibilidades.

A vivência compreensiva da dominância do plexo, implexação, implicação, gestalt, é pré-reflexiva, e pré-conceitual, fenomenal. E se constitui sempre como a vivência de uma multiplicidade de possibilidades, organizada segundo a sua dominância, como plexos, como gestalts.

A palavra plexo tem um sentido de trança, de entrançar, entrançamento.

A vivência ontológica fenomenológico existencial dialógica de qualquer detalhe da Biodiversidade é, e só pode ser, implicativa, compreensiva, gestáltica.

A vivência da Biodiversidade, em sua originalidade ontológica, se dá como implicação, como a vivência de uma multiplicidade articulada de possibilidades, que só pode ser vivida, assim, como um plexo, como uma multiplicidade de possibilidades, organizadas, segundo a sua dominância, como uma gestalt. Ativa. Da mesma forma que implicativa. Hermenêutica. E fenomenológico existencial experimental.

A reflexão, a experiência explicativa, não pode rivalizar com este caráter compreensivo, implicativo, fenomenológico existencial, e dialógico, estético, da vivência ontológica da Biodiversidade.

Em sua ontológica, em cada um de seus conjuntos, e detalhes, a Biodiversidade é sempre o acontecer de uma multiplicidade de possibilidades que se organiza compreensiva e implicativamente, implexativamente, como a vivência pré-reflexiva, pré-conceitual, de plexos em desdobramento de possibilidades. De gestalts. Sempre ativas, criativas, enquanto tais, atualidades e presenças, do tu de uma dialógica.

Gestalts que são, caracteristicamente, sempre, totalidades compostas por uma multiplicidade de partes. Mas que, enquanto totalidades, gestalts, implicação, são diferentes da soma destas suas
partes.

E, totalidades significativas, que aparecem compreensivamente, que se constituem compreensivamente, antes, anteriormente, à figuração, à configuração, sucessiva de suas partes. Que figuram, a seguir, paulatinamente.

A única forma de apreendermos a Biodiversidade, e os seus detalhes, em suas multiplicidades, e proliferações infinitas, sem apartá-los de suas totalidades, e sem mutilar as totalidades da
multiplicidade organizada de suas totalidades significativas, é compreensivamente, implicativa e gestalticamente, estéticamente.

Ou seja, é implicativa e compreensivamente. Fenomenológico existencial e dialogicamente. Ontologicamente. Sempre hermenêutica e experimentalmente, no sentido fenomenológico existencial, compreensivo e implicativo do termo.




CONCLUSÃO

Para apreendermos, para compreendermos, para experimentarmos, interpretarmos, e avaliarmos, o Ambiente -- em sua eticidade ontológica, própria e específica --, precisamos retroceder ao modo ontológico de sermos, do acontecer. E de ser e acontecer o Ambiente, como o tu, de uma dialógica eu-tu. Como devir, como ação, e interpretação, fenomenológico existenciais.

Este modo ontológico de sermos está -- enquanto modo de sermos, e de ser o ambiente -- aquém da ontologia e da epistemologia explicativas.

Aquém na medida em que o modo ontológico de sermos antecede, é pré-ente, com relação ao modo explicativo de sermos. Modo de sermos do ente.

Própria e especificamente, o modo ambiental, ontológico, de sermos é da ordem da compreensão, e da implicação. E não é da ordem da explicação. E se dá como acontecer, anteriormente à
constituição do modo ôntico de sermos do acontecido.

Só neste modo ontológico de sermos, compreensivo, e implicativo, é que o Ambiente, em sua efetividade ontológica, pode ser apreendido, experimentado, interpretado; e pode se dar em sua
gratuidade desproposital, permanentemente formativa, pré-reflexiva, pré-conceitual, e ética.

Na instantaneidade momentânea da vivência ontológica. Somente na qual o Ambiente pode ser compreendido, experimentado, interpretado, e avaliado. Em sua eticidade ontológica própria, fenomenológico existencial dialógica, pré-reflexiva.

Anteriormente, portanto, ao modo de sermos da constituição do sujeito e da dicotomia sujeito objeto.

Fora do modo de sermos da causalidade, fora do modo pragmático de sermos, do uso e da utilidade.

Próprios à dimensão ôntica, e acontecida, de sermos, e de ser o Ambiente. Próprios ao ambiente em sua ecológica.

Considerando a inobjetividade, o caráter pré-reflexivo, e pré-conceitual, da dimensão ontológica, entendemos que o Ambiente ontológico, assim, somos nós, enquanto tu de uma dialógica diapoiética.


BIBLIOGRAFIA.
BUBER, Martin EU E TU.
HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO.
HELLER, Agnes SOCIOLOGIA DE LA VIDA COTIDIANA.
PIMENTA, Silvia OS ABISMOS DA SUSPEITA.





5. BIOIMPLICAÇÃO


5. BIOIMPLICAÇÃO

Este é um comentário metodológico.

Numa epistemologia e ontologia ôntica, objetivista, existe o privilégio do preconceito da objetividade. Um privilégio da reflexão, e da atitude teorética. Um privilégio da explicação

Numa epistemologia e ontologia ontológica, fenomenológica existensial, e dialógica, existe um privilégio da experimentação e da hermenêutica fenomenológico existenciais. Um privilégio da inspectação. Da implicação, e da compreensão.

O termo 'Biodiversidade' -- devidamente compatível e situado, a priori, numa perspectiva ôntica -- pressupõe o homem como sujeito, como centro da criação, contemplando uma pluralidade de seres objetos.

O objeto, ob-jeto, significa 'afastamento do jeto'.

Todos os seres  são o próprio jeto, no modo ontológico de sermos.

Já que são ação, desdobramento de possibilidades. Processo. E não seres empalhados, em reverência ao humano.

Não são objetivos. Não têm objetividade. Nem subjetividade. Mas transjetividade. São transjetivos.

Dão-se como dialógica, na vivência da compreensão, constituinte do episódio ontológico fenomenológico existensial da ação.

De modo que, qualquer de seus aspectos é um TU desta dialógica.

Nesta dialógica, a experimetação e a hermenêutica fenomenológico existensiais, implicativas e compreensivas, são as vias cognitivas por exelência.

Numa Biologia compreensiva, fenomenológico existensial, e dialógica, a implicação e a compreensão são as vias cognitivas, por excelência. Ao invés da teorética, e da reflexão.

Não tem lugar a objetividade, nem a subjetividade, a omplicação e a compreensão são transjetivas.

Porque a dialógica, a implicação, e a compreensão, acontecem durante a duração da vivência do jeto do  desdobramento de forças, as possibilidades. Que configuram o episódio ontológico da ação, a existência, como compreensão, e musculação.

No episódio da ação, o objeto, e o sub-jeto, se constituem, no momento ôntico, posterior à ontológica da ação, do desdobramento de possibilidades.

A teorética, a objetividade, e a subjetividade; a reflexão, a causalidade, a pragmática, o propósito, a explicação, só são possíveis no modo ôntico de sermos. Na ausência do objeto, a inspectação e o improviso são elementos centrais numa metodologia ontológica.

Mas, aí, o outro não é mais objeto de uma relação reflexiva, objetiva, causal, mas jeto, transjetivo, o TU de uma dialógica diapoiética.

A imagem do homem, sujeito -- como centro da criação --, como sugere o termo Biodiversidade. Com a diversidade dos seres vivos, como objetos, como coisas, ao seu redor --, este ponto de vista, esta perspectiva, é, por demais, objetivista e explicativa.

A implicação, no âmbito da qual se constitui a compreensão, é o modo como se organiza a vivência da experimentação, e da hermenêutica fenomenológico existensiais.

De modo que, ao termo 'Biodiversidade', melhor seria o termo 'Bioimplicação'. Que especifica uma Ontologia, e Epistemologia, ontológicas. E não está tão irremediavelmente marcado pela perspectiva e preconceito ôntico.

'Bioimplicação' é, pois, um termo metodológico que designa a vivência de uma metodologia fenomenológico existensial, baseada numa Ontologia e numa Epistemologia Ontológicas, para estudos de compreensão em Biologia.

Refere-se a uma metodologia da perplexidade, que contempla a implicação, enquanto vivência pré-reflexiva e pré-conceitual, do acontecer biológico.

Implicação, perplexidade, é o processo de organização da vivência, da experimentação, e da interpretação fenomenológico existenciais, no episódio fenomenológico existensial da ação.

A implicação dá-se través da vivência da formação sucessiva de dominâncias, e de plexos (gestalts) de experiência, que se constituem como compreensão.

De modo que a implicação, a Bioimplicação, pressupôe o abandono metodológico da experiência ôntica -- sua objetividade, sua reflexão, sua conceituação, sua teorética, sua causalidade, seu propósito, suas pragmáticas -- em benefício da transjetividade da ação, e da compreensão -- seu caráter pré-reflexivo, e pré-conceitual, seu despropósito, seu caráter não causal, sua experimentalidade, e seu caráter hermenêutico.